
Entre os 36 pedidos de indiciamentos feito pela Polícia Federal (PF) no caso da chamada Abin Pararela está o nome do atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa. Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Corrêa teria atuado para impedir as investigações sobre o suposto esquema de espionagem ilegal de autoridades.
Segundo a PF, os servidores da Abin usavam instrumentos adquiridos pela agência durante os governos de Jair Bolsonaro (PL) e Michel Temer (MDB) para “coletar ilegalmente informações e alimentar o gabinete do ódio”. Ainda de acordo com as investigações, os agentes da Abin formaram uma “organização criminosa para monitorar pessoas e autoridades públicas, invadindo celulares e computadores durante a gestão Bolsonaro”.
Já no governo Lula, Luiz Fernando Corrêa teria “agido como o chefe de facto da agência, participou de reuniões de cúpula, teve acesso a informações sigilosas e realizou ações que notadamente tiveram o intento obstruir a investigação sobre a organização criminosa (ORCRIM) instalada no órgão”. Segundo a PF, ele tinha conhecimento das irregularidades e ações clandestinas da gestão anterior, inclusive sobre a suposta instrumentalização da agência para atacar o sistema eleitoral.
“Sua primeira ação, ainda no exercício ilegal do cargo, foi a de minimizar o escândalo do uso clandestino da ferramenta FirstMile, afirmando que ‘a montanha vai parir um rato’, e de articular, juntamente com outros diretores, a proteção de Paulo Maurício Fortunato Pinto, um dos principais responsáveis pela degradação da Abin pela Orcrim [organização criminosa]”, diz um trecho do relatório da PF.
Nascido em Santa Maria (RS), em 1958, Corrêa é delegado de Polícia Federal aposentado e já atuou como diretor-geral do Departamento de PF e Secretário Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça durante os dois primeiros governos Lula, entre 2003 e 2011. O atual diretor da Abin também foi diretor de Segurança do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, de 2011 a 2016.
Após o indiciamento, os servidores da agência divulgaram uma carta aberta solicitando a demissão de Corrêa. Os agentes afirmam que sua permanência no cargo é um “absurdo”.
A Gazeta do Povo procurou o governo federal para comentar o indiciamento do atual diretor-geral e aguarda retorno. Já a Abin disse que não se pronunciará sobre o assunto.