
Quase 10 meses após a publicação de uma reportagem da Gazeta do Povo que mostrou como um garimpo surgiu dentro de uma terra indígena, a Polícia Federal deflagou uma operação para combater a atividade ilegal.
A operação batizada de “Olhos Fechados” foi deflagrada no dia 15 de maio e combateu os crimes de desmatamento, garimpagem ilegal, usurpação de bens da união, além de associação criminosa, na Terra Indígena Sete de Setembro, situada nos estados de Rondônia e Mato Grosso.
De acordo com a Polícia Federal, as investigações começaram em 2024. Durante a operação foram cumpridos onze mandados de busca e apreensão e três mandados de prisão, sendo dois de caciques indígenas.
Garimpo foi denunciado pela Gazeta do Povo
O garimpo na terra indígena alvo da operação foi tema da reportagem “Como nasce um garimpo gerenciado pelo crime organizado no meio da selva“. A partir dos relatos dos indígenas, a Gazeta do Povo encontrou a localização do garimpo e acompanhou sua evolução por meio de imagens de satélites. Em setembro de 2023, imagens da região mostravam uma área coberta por selva densa, mas com o passar dos meses, um clarão se abriu e deu lugar ao garimpo.
A reportagem apontou que os indígenas do povo paiter suruí, que habitam a Terra Indígena Sete de Setembro, estavam sendo cooptados para se envolverem com a atividade ilegal. O cacique de uma das aldeias afirmou que os indígenas estavam recebendo “alguns quilos de ouro” para acobertar o garimpo e facilitar a entrada dos garimpeiros na terra indígena.
O comportamento de resistência do cacique de uma das aldeias diante da investigação da Polícia Federal reforça a afirmação feita pelo cacique ouvido pela reportagem. “A ação busca apurar o possível envolvimento de lideranças indígenas ao ‘fecharem os olhos’ para a ilegalidade em troca de vantagens financeiras dificultando ainda o trabalho da polícia”, afirmou a Polícia Federal em nota sobre a Operação Olhos Fechados.
Quando a Gazeta do Povo publicou a reportagem, em julho de 2024, a estimativa era que o garimpo abrangia cerca de 12 hectares da terra indígena. Somente em maio de 2024, duas imagens registradas pelo Google Earth com um intervalo de 13 dias apontavam que houve um aumento de cerca de 20% da área explorada para mineração.
O laudo pericial da Polícia Federal apontou que entre junho de 2022 e outubro de 2024, a área atingida pelas ações de desmatamento e da prática de garimpo somou 27,29 hectares. A estimativa é que o valor do dano ambiental seja superior a R$ 11 milhões.