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O proletário e o aiatolá: uma fábula revolucionária


Há simetrias morais que desafiam a razão e imploram por interpretação. Tomemos, por exemplo, o gesto recentíssimo do descondenado-em-chefe brasileiro, que, diante da morte de Ebrahim Raisi, líder supremo adjunto do regime iraniano, fez ecoar desde Brasília um pesar solene e respeitoso, digno de um chefe de Estado civilizado. Só que, no caso, dirigido a um dos criminosos políticos mais torpes de nosso tempo, conhecido como “o carniceiro de Teerã”. Lula não perdeu a chance de proclamar seu “profundo pesar”, referindo-se a Raisi como um “líder legitimamente eleito”, sem menção alguma às valas comuns, aos enforcamentos por grua e à teocracia repressiva que converteu o Irã num laboratório do inferno.

Ora, esse tipo de reverência não brota do acaso nem se explica por idiossincrasias da política externa brasileira. Ele é, antes de tudo, o sintoma — e o símbolo — de uma afinidade mais profunda: a que une, como demostraram com clareza cirúrgica David Horowitz e Jamie Glazov, a esquerda revolucionária e o islamismo radical.

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Em seu livro Unholy Alliance, Horowitz radiografa a gênese desse pacto infame, revelando o modo como, após a derrocada soviética, a esquerda buscou no radicalismo islâmico um novo aliado para perpetuar sua cruzada contra o Ocidente. Já em United in Hate, Glazov vai além, revelando o impulso autodestrutivo que leva intelectuais, jornalistas, ativistas e governantes a cortejar regimes que os apedrejariam sem hesitação, caso tivessem oportunidade.

Ambos apontam para uma patologia espiritual coletiva, que Pascal Bruckner bem chamou de “masoquismo ocidental”. É isso que permite que feministas universitárias defendam, com fervor militante, os tiranos que obrigam mulheres a se esconder sob véus e ameaçam com a morte quem ousa cantar sem permissão. É esse mesmo impulso que faz com que militantes LGBTQIA+ protestem contra a “islamofobia” — ainda que em nome de uma ideologia que criminaliza sua própria existência. Embriagada de ressentimento e ávida por novas utopias, a esquerda contemporânea entregou-se alegremente à barbárie. O critério, agora, é apenas um: basta odiar os EUA e Israel. Todo o resto se relativiza — inclusive o apedrejamento literal e a homofobia concreta.

O apoio ao aiatolá

Dentro desse quadro, o mandatário brasileiro aparece não como anomalia, mas como expressão típica. Desde seu retorno ao Planalto, tem se esmerado em reatar laços com os piores regimes do planeta. E, já em seus primeiros meses de governo, deu sinal claro do tipo de solidariedade que o move, autorizando a ancoragem de navios de guerra iranianos em portos brasileiros, sob protestos discretos dos norte-americanos.

Eis o velho teatro lulopetista: entre o carrasco companheiro e a vítima opositora, a solidariedade vai sempre para o primeiro. Porque, como já ensinava Horowitz, o revolucionário não luta contra a tirania — quer apenas substituí-la. Se há um regime que açoita o próprio povo, mas desafia os EUA e “o imperialismo”, então há mérito moral. E, se o mesmo regime enforca homossexuais, subjuga mulheres e persegue cristãos, não importa: tudo será diluído no soporífero discurso do “respeito à autodeterminação dos povos”.

O que o mandatário brasileiro admira no Irã não é o islamismo em si, claro. É o modelo de poder inquestionável, de coerção ideológica, de obediência forçada — com toques de retórica revolucionária terceiro-mundista. É a própria imagem da utopia lulopetista: um Estado forte, imune ao dissenso, onde a religião (lá, a dos aiatolás; aqui, o comunismo) governa os corpos e as consciências.

Diante disso, a pergunta não é por que Lula chora por Raisi. A pergunta é: por que ainda fingimos surpresa, como fez ontem Rafael Erdreich, cônsul de Israel em São Paulo?

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