
Ex-colegas do coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmaram nesta quinta-feira (22), no Supremo Tribunal Federal, que desconheciam qualquer plano de golpe de Estado, de atos para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou de atrapalhar a transição de governo.
Pela manhã, sete militares que trabalharam diretamente com Cid na Presidência da República ou no Exército, alguns deles amigos próximos, prestaram depoimento no processo em que o coronel é acusado por tentativa de golpe, organização criminosa, dano ao patrimônio e outros delitos, ao lado de Bolsonaro e outros réus.
Eles foram chamados como testemunhas pela defesa de Mauro Cid – nesta condição, têm o dever de dizer a verdade, sob pena de serem processados criminalmente.
Comandante do Exército entre 30 de dezembro de 2022 e 21 de janeiro de 2023, o general Júlio César de Arruda disse que nunca tratou de questões políticas com Cid. “Durante o período que servi com ele, não se mostrava politizado”.
No depoimento, ele também negou que tenha atuado para impedir a polícia de prender manifestantes acampados em frente ao QG do Exército, em Brasília, na noite de 8 de janeiro de 2023, após a invasão e depredação das sedes dos Poderes.
“Ali estava um clima de nervosismo, o senhor sabe disso, e minha função era acalmar. Isso tinha de ser feito de maneira coordenada. Graças a Deus não houve nenhuma morte”, respondeu o general a Moraes, que determinou as prisões.
Arruda havia sido escolhido por Lula para o comando do Exército pois era o general mais antigo do Alto Comando. O presidente o selecionou respeitando a tradição de escolha do militar mais experiente, mas optou por sua demissão cerca de um mês depois. O petista teria ficado descontente com o Exército ter impedido inicialmente a entrada de policiais civis no acampamento de ativistas montado na frente do Quartel General.
O general Edson Dieh Ripoli também disse que Cid não se envolvia em questões políticas. “Naquela época não [era politizado]. Cumpria rigorosamente as missões. Não havia naquele momento nenhuma politização”, disse o militar sobre Cid, a quem elogiou como oficial “leal e correto”.
“Sempre obediente”, afirmou o coronel Fernando Linhares Dreus sobre a conduta de Cid. A defesa de Cid tenta obter sua absolvição no processo alegando que ele não fazia articulações para a suposta tentativa de golpe, apenas auxiliava Bolsonaro em atividades práticas e pessoais.
O capitão do Exército Raphael Maciel Monteiro disse que Cid manifestou repúdio em relação aos atos de 8/1 e teria ficado “incomodado e pesaroso” sobre a descoberta de que militares das Forças Especiais do Exército, subordinados a ele, teriam concordado em participar de uma operação para tentar matar o ministro Alexandre de Moraes.
Ele disse que nunca houve qualquer conversa com Cid sobre planos de golpe. Rafael Monteiro foi questionado pela defesa do ex-ministro Walter Braga Netto sobre o áudio, vazado no ano passado, em que Cid se queixava da pressão da Polícia Federal para corroborar hipóteses da investigação.
O colega respondeu que, nessa época, sua defesa passou a implicar outros militares no caso e, por isso, Cid sofreu com “entristecimento e abalo de espírito”. “Tinha necessidade de manter-se fiel ao dever ético militar, de falar a verdade, mas de não ser um elemento de entregar militares e subordinados. Para o círculo mais íntimo, tinha necessidade de falar coisas muito irrefletidas, mas como fruto de defesa irracional de sua honra”, contou Raphael.
Na época, após a publicação dos áudios, Cid foi preso por Moraes e disse que falou sobre a pressão como “desabafo” e reafirmou a voluntariedade da colaboração.
O sargento Luis Marcos dos Reis, que trabalhou com Cid na Presidência, negou planos de golpe, insurgência ou contatos do militar com manifestantes e financiadores do acampamento em frente ao QG do Exército. Também disse que o ex-ajudante de ordens não dificultou a transição para o governo Lula.
O mesmo foi dito pelo tenente Adriano Alves Teperino. “Sempre nos orientou no sentido de apoiar o governo de transição, apoiar o pessoal que estava chegando para assumir as funções”, disse no depoimento.