O Espírito Santo foi o primeiro Estado a receber os projetos do Pena Justa, programa do governo Luiz Inácio Lula da Silva para a reestruturação do sistema prisional.

As ações foram lançadas na segunda-feira 19, durante visita do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Luís Roberto Barroso, ao Complexo Prisional de Viana. O evento contou com a presença do governador Renato Casagrande (PSB).

O Estado foi escolhido por “apresentar evidente recuperação” no quadro do sistema prisional local. Nas prisões capixabas, presos têm acesso a salões de beleza e até aulas de jiu-jitsu.

Na Penitenciária de Segurança Máxima 2 (PSMA2), em Viana, foi implantado o projeto Pena Justa – Informa, que levará 30 horas semanais de “conteúdo educativo e cultural diretamente às celas”.

Os monitores são blindados, soldados a laser e equipados com alarme antifraude — estrutura pouco comum até mesmo em instituições de ensino públicas.

Prisão que recebeu projeto de Lula não deixa detentos trabalharem

A programação do projeto foi desenvolvida com apoio da Fundação Roberto Marinho, do Canal Curta! e do Ministério dos Direitos Humanos, e atenderá inicialmente 72 presos da PSMA2, que abriga detentos de alta periculosidade.

Em abril, a unidade também passou a contar com uma rádio interna implantada pela Secretaria da Justiça (Sejus), voltada à transmissão de informações institucionais, conteúdos educativos e “mensagens sobre cidadania”.

Em prisão do Espírito Santo, detentos receberam televisão blindada |
Foto: Divulgação/Governo do ESEm prisão do Espírito Santo, detentos receberam televisão blindada |
Foto: Divulgação/Governo do ES
Em prisão do Espírito Santo, detentos receberam televisão blindada |
Foto: Divulgação/Governo do ES

Todo o conteúdo é produzido e coordenado pela própria administração prisional. Apesar disso, a PSMA2 segue sem oferecer acesso regular à educação formal ou ao trabalho, mantendo os detentos em regime de isolamento por até 22 horas diárias. Segundo as autoridades, o perfil dos presos impede a aplicação dessas medidas.

Já na Penitenciária Agrícola do Espírito Santo, o projeto Pena Justa – Segurança Alimentar estrutura cozinhas agroindustriais e oferece cursos de piscicultura com certificação e remuneração. Atualmente, 60 internos atuam na cozinha industrial responsável por preparar mais de 10 mil refeições por dia.

O que é o Pena Justa

Ricardo Lewandowski, no púlpito, ao lado de Paulo Gonet e Luís Roberto Barroso, sentados | Foto: Jamile Ferraris/Ministério da Justiça e Segurança PúblicaRicardo Lewandowski, no púlpito, ao lado de Paulo Gonet e Luís Roberto Barroso, sentados | Foto: Jamile Ferraris/Ministério da Justiça e Segurança Pública
Ricardo Lewandowski, no púlpito, ao lado de Paulo Gonet e Luís Roberto Barroso, sentados | Foto: Jamile Ferraris/Ministério da Justiça e Segurança Pública

O Plano Pena Justa é uma resposta a uma determinação do STF. No ano passado, a Corte reconheceu a existência de supostas violações constitucionais nos presídios brasileiros e ordenou que o governo propusesse soluções.

Essa determinação do STF é resultado do julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 347, apresentada pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol). Na ocasião, o Psol acionou o STF para cobrar melhorias nas condições carcerárias e para solicitar a redução do “hiperencarceramento”.

Segundo o ministro Luís Roberto Barroso, o objetivo é “garantir dignidade, educação e trabalho às pessoas privadas de liberdade”.

 Em resumo:

  • O Psol acionou o STF para denunciar problemas no sistema carcerário brasileiro (ADPF 347).
  • O STF concordou e mandou o governo propor soluções.
  • A equipe de Lula apresentou o Plano Pena Justa.

Os problemas citados pelo Plano Pena Justa

  • Superlotação carcerária e a “sobrerrepresentação” da população negra.
  • Uso excessivo da privação de liberdade, muitas vezes sem necessidade.
  • Falta de estrutura adequada e condições precárias nos presídios.
  • Ausência de políticas eficazes de ressocialização, com egressos sem apoio.
  • Tortura e maus-tratos sistemáticos dentro das unidades prisionais.
  • Influência do crime organizado, com facções controlando unidades inteiras.
  • Falta de transparência e de canais efetivos para denúncias.
  • Desvalorização dos servidores do sistema penal.
  • Desrespeito a diretrizes judiciais e normas internacionais.
  • Ineficiência na gestão da política penal, resultando em desperdício de recursos e falta de investimentos em soluções eficazes.

Para resolver os problemas, o governo propõe as seguintes soluções:

Controlar as vagas no sistema prisional

  • Reduzir o número de prisões desnecessárias.
  • Priorizar penas alternativas para crimes de menor potencial ofensivo.
  • Aplicar audiências de custódia com rigor para evitar prisões indevidas.
  • Garantir acompanhamento de penas e progressão de regime sem burocracia excessiva.

Melhorar a qualidade das prisões

  • Desenvolver a infraestrutura dos presídios, respeitando normas internacionais.
  • Assegurar o acesso dos presos a alimentação adequada, água potável, higiene, saúde, educação e trabalho.
  • Combater a tortura e os maus-tratos, de maneira a garantir investigações e punições rigorosas.
  • Criar mecanismos de transparência e canais para denúncias eficazes.
  • Valorização dos servidores penitenciários com melhores condições de trabalho.

Promover a reintegração social

  • Criar programas que preparem os presos para a vida em liberdade.
  • Desenvolver oportunidades reais de trabalho e estudo dentro e fora dos presídios.
  • Fomentar iniciativas que evitem a reincidência criminal, como parcerias com o setor privado.
  • Estruturar redes de apoio para egressos do sistema prisional.

Ideias para não repetir os erros

  • Institucionalizar o combate ao racismo no ciclo penal.
  • Fortalecer políticas públicas de combate à criminalidade sem aumento de encarceramento.
  • Garantir o cumprimento das normas do STF e do CNJ.
  • Implantar reparações e medidas de reconhecimento da responsabilidade estatal.

O Plano Pena Justa ainda propõe cotas raciais no sistema penal, como parte das estratégias para “enfrentar o racismo estrutural dentro do sistema prisional”.

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