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Eduardo Paes monta estratégia para disputar governo em 2026

O prefeito do Rio de Janeiro ainda tenta negar, mas uma “tempestade perfeita” empurra Eduardo Paes (PSD) para largar a prefeitura e ir para a disputa do governo do estado em 2026. Com trânsito livre que vai dos evangélicos à comunidade LGBT carioca — somado à indefinição da direita em torno da construção de uma candidatura ao cargo e aos apoios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do cacique Gilberto Kassab (PSD) —, Paes desponta na corrida ao governo do Rio de Janeiro nas eleições de 2026.

Até agora, Paes tem sido categórico e diz que fica na prefeitura. “Não, não vou não, sou candidato a ficar na prefeitura do Rio”, disse em abril durante entrevista na CNN Brasil, em sua última manifestação pública sobre o tema. Em particular, no entanto, Paes começa a admitir que pode mesmo sair candidato em 2026.

“Não tenho medo de perder voto nenhum”, teria afirmado no último dia 21, durante reunião fechada com donos de quiosques e barracas de praia no Rio. “Eu vou disputar uma eleição em breve, não vou dizer qual, mas vou disputar uma eleição em breve. Prefiro perder, na boa, prefiro perder – já ganhei, já perdi, faz parte da vida – prefiro perder eleição do que ser um prefeito incompetente, numa cidade esculhambada”, afirmou o prefeito, de acordo com a BandNews FM.

Procurado pela Gazeta do Povo para falar sobre uma possível candidatura ao governo do RJ no ano que vem, por meio de sua assessoria de imprensa, Paes estava em viagem a Brasília e não foi localizado para comentar o assunto. 

A reportagem da Gazeta do Povo apurou que o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, está disposto a bancar a candidatura de Eduardo Paes ao governo no Rio de Janeiro em 2026, inclusive com grande aporte do “fundão eleitoral”, mas que a decisão cabe ao próprio prefeito e seu grupo politico no estado. Paralelamente, o prefeito do Rio prepara seu vice e correligionário, Eduardo Cavaliere, para assumir a capital fluminense — se for o caso. 

O vice, um político jovem de 30 anos e pouco conhecido, tem sido presença constante ao lado do prefeito em eventos públicos e inaugurações. Também tem sido escalado para atuar como porta-voz do governo no lançamento de projetos e em coletivas de imprensa.

Na propaganda eleitoral nacional do PSD veiculada em rede nacional de TV e rádio no início do mês, Paes aparece com destaque e discurso de candidato, focado na (falta de) segurança pública fluminense. No início do ano, Paes anunciou a transformação da guarda em polícia municipal, mas o projeto segue em discussão na Câmara dos Vereadores.

Reeleito prefeito carioca em 2024 no primeiro turno com 60,47% dos votos, Paes tem despontado em pesquisas recentes como favorito também ao governo do estado. De acordo com pesquisa de intenção de voto divulgada pelo Instituto Paraná Pesquisas e contratada pelo PL no início de abril, nos dois cenários estimulados – quando são mostrados os nomes dos políticos para escolha dos entrevistados – o atual prefeito do Rio de Janeiro lidera com mais de 40 pontos percentuais para os segundos colocados.

  • Metodologia da pesquisa citada: 1.680 entrevistados pelo Paraná Pesquisas em 60 municípios do Rio de Janeiro entre os dias 31 de março e 4 de abril de 2025. Nível de confiança: 95%. Margem de erro: 2,4 pontos percentuais.

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Além da dianteira nas pesquisas, Paes beneficia-se, até agora, da incerteza no campo da direita em torno da construção de uma candidatura forte para o governo do Rio no ano que vem. O grupo político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador Cláudio Castro (PL) ainda não definiu o nome para concorrer ao Executivo estadual.

Flávio Bolsonaro, com quem Eduardo Paes tem trocado farpas pelas redes sociais, deve disputar o Senado para tentar garantir um segundo mandato. Seria o mesmo caminho natural para o atual governador em final de segundo mandato. 

Como mostrou a Gazeta do Povo, até o momento, o nome preferido entre os membros  cariocas do PL para a disputa do governo é Rodrigo Bacellar (União), deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Segundo membros do PL, a ideia central é tentar uma chapa conjunta com o União Brasil, semelhante à eleição de 2022 – quando Cláudio Castro concorreu à reeleição com Thiago Pampolha (MDB) de vice, que à época era do partido presidido por Antonio Rueda.

Apesar da indefinição, o acerto para a chapa de direita pode estar mais próximo. No mês passado, Castro oficializou a indicação de Pampolha para uma vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Caso a nomeação seja aprovada na Alerj, Pampolha precisará renunciar ao cargo no governo, abrindo caminho para que Bacellar passe a ser o primeiro na linha sucessória de Castro. Assim ele assumiria o governo com a descompatibilização de Castro em abril do ano que vem, e partiria para a eleição no controle da máquina pública do estado.

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Agrada a “gregos e troianos”

Enquanto a indefinição segue no campo da direita, Paes tenta ampliar seus apoios à esquerda e à direita. A prefeitura do Rio de Janeiro anunciou o lançamento do projeto Parque Terra Prometida, o primeiro parque temático da cidade com inspiração evangélica.

Localizado em Santa Cruz, o espaço ocupará a área onde funciona a Cidade das Crianças Leonel Brizola. A iniciativa faz parte da estratégia de Eduardo Paes para consolidar para 2026 o apoio de eleitores conservadores, que foram decisivos na reeleição dele no primeiro turno no ano passado.

Segundo a prefeitura, o Parque Terra Prometida será um espaço voltado à propagação e vivência da fé cristã, com o objetivo de fortalecer o turismo religioso na cidade. Com 198,5 mil metros quadrados, o local contará com uma ampla infraestrutura para atender diferentes públicos e eventos religiosos.

Além disso, o parque terá atrativos como o Jardim de Contemplação, um bosque nativo, o Caminho das Águas, parque infantil, ciclovia, quadras esportivas e espaços comerciais para alimentação e lojas de apoio. “Um lugar de congregação, peregrinação e para a realização de eventos religiosos, que fará bem ao corpo e à alma”, disse Paes no lançamento do projeto.

É só mais um dos diversos gestos do prefeito do Rio aos evangélicos desde que retornou à prefeitura da cidade, em 2021. No ano passado, em plena eleição municipal, Paes destinou quase R$ 1 milhão para a festa de centenário da Assembleia de Deus, pouco após receber o apoio do deputado federal  e pastor rompido com o bolsonarismo Otoni de Paula (MDB).

O deputado segue como um dos principais aliados de Eduardo Paes entre os evangélicos, e deve concorrer ao Senado em 2026. O filho dele, Otoni de Paula Filho, é o secretário municipal de Cidadania e Família.

A estratégia de aproximação parece estar funcionando. Durante as eleições do ano passado, quando enfrentou como principal concorrente o deputado federal Alexandre Ramagem (PL), representante do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na disputa municipal, Paes participou de ato no qual recebeu o apoio de mais de 300 lideranças evangélicas da cidade. O prefeito venceu Ramagem em todos os recortes do eleitorado, inclusive dentre os evangélicos. Tanto Quaest quanto Datafolha mostravam cenários parecidos para Paes ante Ramagem dias antes da eleição: 46% a 27% e 45% a 29%, respectivamente, entre os eleitores evangélicos.

No último Ano Novo, Paes chegou a ser alvo de uma representação feita pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap) ao Ministério Público Federal (MPF), acusado de favorecer cantores gospel em detrimento das religiões de matriz africana nas festas de Réveillon e em outros eventos da cidade. “Do ponto de vista das igrejas, Paes tem uma capacidade muito forte de manter boas relações com as lideranças populares evangélicas, que estão lá na base”,  afirma Vinícius do Valle, cientista político e diretor do Observatório Evangélico.

“Com essa capilaridade entre as lideranças evangélicas regionais, ele consegue chegar nos eleitores dessas igrejas. Também não é um político que traz a marca de bandeiras progressistas de esquerda nos costumes que os religiosos rejeitam, então consegue ter uma aceitação muito boa”, acrescenta Valle.

Sem descuidar do outro lado, Paes também consolida-se junto ao público progressista. Entusiasta histórico do carnaval, o político anda em alta especialmente com a comunidade LGBT do Rio e do Brasil, após ter trazido grandes shows gratuitos das cantoras Lady Gaga e Madonna para a praia de Copacabana, neste ano e no ano passado.

As apresentações juntaram milhões de pessoas na orla carioca e mexeram com a economia da cidade. Eduardo Paes também chegou a anunciar – e depois disse que era apenas um desejo dele – ter em 2026 um show gratuito da banda irlandesa U2, nos mesmos moldes.

À esquerda, o PT deve seguir a tendência das eleições municipais de 2024 e apoiar Paes ao governo do estado, mas dessa vez exige um vice do partido na eventual chapa. “O PT não vai abrir mão do Fabiano Horta como vice para o governo do estado. É Eduardo para governador e um vice de esquerda”, declarou ao jornal O Globo Washington Quaquá, prefeito de Maricá (RJ) e vice-presidente do partido no estado.

Independentemente do vice, no entanto, o apoio do PT está praticamente selado. Para Lula, a situação seria ideal. Com Paes como candidato ao governo do estado em 2026, o presidente ganha um palanque forte no estado para sua provável tentativa de reeleição.

Antecipadamente e descolado de seu partido, Paes já anunciou que apoia a reeleição de Lula no ano que vem. O Psol é forte na região metropolitana do Rio, mas mesmo que lance candidatura própria, não há chances de não estar com Paes e o PT em um eventual segundo turno.

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Voto no interior é desafio 

Com apoio consolidado na capital, Paes tem o desafio de enfrentar a resistência maior ao seu nome no eleitorado do interior do estado. Na eleição de 2018, contra Wilson Witzel (à época do extinto PSC), o prefeito carioca venceu por uma pequena margem na capital e amargou uma expressa derrota na Baixada, região que reúne 13 municípios, incluindo Duque de Caxias e Nova Iguaçu, terceiro e quarto maiores colégios eleitorais, respectivamente, o que selou a derrota dele naquele pleito.

Para começar a pensar no Palácio Guanabara, Paes precisará de uma chapa eleitoral com partidos fortes que possuem grandes redutos eleitorais. O número 1 da lista é o Partido Progressistas (PP).

Entre conversas, aproximações e distribuição de cargos no município, a legenda presidida por Ciro Nogueira tem um porém: é da base governista de Cláudio Castro e tem rejeição à ideia de uma chapa conjunta com o PT, partido da coligação de Paes nas eleições do ano passado. Somado a isso, Dr. Luizinho, líder do PP no Rio, não esconde o desejo de contar com o governador em seu partido, o que dificulta as negociações.

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