Os rótulos de “direita raiz”, “direita chucra”, “extrema-direita” e até “fascista” demonstram que ser de direita no Brasil ainda é algo nebuloso. A ascensão pelas redes sociais, o fenômeno eleitoral de Jair Bolsonaro e a o conceito de guerra cultural explicam só em parte o que é a direita brasileira. A indefinição ainda é bastante demarcada nesta faixa do eleitorado, que certamente determinará os rumos da eleição presidencial em 2026.
Este foi o ponto de partida do programa Última Análise desta terça-feira (20). Os convidados exploraram o que há por trás desta posição política, ainda carregada de “muito preconceito”, conforme o comentarista André Marsiglia. Sua posição é bastante clara: “Na economia, me considero um liberal. No comportamento, me considero uma pessoa de direita”.
“Liberal clássica”, é como se define, por sua vez, a comentarista Anne Dias. Ela justifica que “defende o estado mínimo, mas ainda defende a existência do Estado” e considera a “liberdade econômica” a mais importante de todas. Já o cronista da Gazeta do Povo Paulo Polzonoff Jr. igualmente se diz de “direita”, sobretudo por ser “antipetista”.
A derrota na Guerra Cultural
O filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937) desenvolveu a ideia de guerra cultural, segundo a qual a esquerda, para dominar o poder, deveria antes dominar a cultura. Assim, tal fenômeno no Brasil causou um “nojo estético” daqueles que se definem como direita e é por isso que há um medo de se assumir como tal, explica Marsiglia.
“Acho que a direita perdeu a guerra cultural. As músicas falam sobre a esquerda, as universidades têm professores de esquerda e a gente não estuda autores que defendem liberdade econômica”, afirma Anne Dias. Marsiglia completa que, como outra consequência da guerra cultural, a esquerda “sequestrou inúmeras pautas” e as reivindicações sociais, oor exemplo, acabam necessariamente se associando ao outro lado.
Construindo um ecossistema
O fenômeno de Jair Bolsonaro, que capitalizou a direita e se elegeu presidente em 2018, parece ter se desidratado. “A falta de trato nas palavras faz com que pessoas moderadas tenham medo de defender pautas associadas ao ex-presidente”, diz Dias.
Polzonoff lembra também do personalismo muito forte na política brasileira “Isso faz com que alguns tenham hesitação a se declararem bolsonaristas”, acredita. Além disso, em relação a um projeto de país, o jornalista faz uma provocação: “Uma parte da direita brasileira é assim: ‘vamos destruir o sistema’. Mas o que vamos construir no lugar? É isso que está faltando”, exemplifica.
Já Marsiglia aponta que há a necessidade de pensar a direita a longo prazo e construir um “ecossistema” para confrontar a esquerda, promovendo ideias e projetos próprios.
O programa Última Análise faz parte do conteúdo jornalístico ao vivo da Gazeta do Povo, no YouTube. O horário de exibição é das 19h às 20h30, de segunda a quinta-feira. A proposta é discutir de forma racional, aprofundada e respeitosa alguns dos temas desafiadores para os rumos do país.