O atual comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, disse em depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, nesta sexta-feira (23), que não recebeu nem teve conhecimento de qualquer ordem dentro da corporação, no fim de 2022, para empregar forças para um golpe de Estado que impedisse a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2023.
Ele depôs como testemunha de defesa do almirante Almir Garnier Santos, seu antecessor no cargo e que responde como réu no processo por supostamente ter se colocado “à disposição” do ex-presidente Jair Bolsonaro para o suposto golpe no final daquele ano.
No interrogatório, o advogado de Garnier, Demóstenes Torres, perguntou a Olsen sobre uma nota da Marinha, divulgada em novembro de 2024, que negava uma afirmação da Polícia Federal, na investigação, de que tanques estariam prontos para efetivar o golpe.
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“A nota de 27 de novembro de 2024 responde a matérias veiculadas na mídia que tratam de tanques na rua prontos para o golpe. Isso no sentido de assegurar que em momento algum houve ordem, preparo ou mobilização de veículos blindados para fins que impeçam ou restrinjam o exercício dos poderes constitucionais”, afirmou o comandante da Marinha.
No depoimento, a defesa de Almir Garnier Santos sustentou que, formalmente, ele passou o comando interino da Marinha para Marcos Sampaio Olsen em 31 de dezembro de 2022. Ele tomou posse no cargo só em 5 de janeiro, numa cerimônia pública. No evento, porém, Garnier não compareceu; no protocolo da solenidade, o antecessor passa o comando simbolicamente para o sucessor.
No interrogatório, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, questionou sobre essa ausência. “Não apresentou qualquer razão para sua ausência para cerimônia de transferência do cargo. Desconheço as razões para não estar presente. Imagino que questões de foro íntimo”, respondeu Olsen.
Relator do processo, o ministro Alexandre de Moraes, então, questionou se a ausência representava uma quebra na tradição. “Exatamente isso. A cerimônia consagra a investidura no cargo”, respondeu o atual comandante da Marinha”. “Ele não compareceu, e não há registro de ausência em cerimônias anteriores.”
Moraes indagou se, nas cerimônias de transmissão do cargo, tanto o antigo, quanto o novo comandante devem prestar continência ao presidente da República. Olsen respondeu que sim, mas que, no seu caso, Lula não estava presente e foi representado pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, para quem o almirante bateu continência.