
O relacionamento entre o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), e o PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode estar se fragilizando. Dois vereadores petistas se aliarem ao PL e ao PSOL para barrar a criação de um núcleo armado da Guarda Municipal na capital fluminense.
A situação expõe tensões entre Paes e a legenda mesmo com a proximidade entre o prefeito e o presidente da República. Na avaliação do prefeito e de seus assessores, divergências com o PT tendem a se acirrar na disputa estadual de 2026.
Eduardo Paes já busca delimitar apoios, numa estratégia que ele chama de “riscar o chão” para saber quem estará realmente ao seu lado na próxima eleição para governador.
PT e Eduardo Paes divergem sobre segurança pública


Apesar das diferenças, o PT mantém influência na prefeitura, comandando as secretarias de Meio Ambiente, Direitos Humanos e Habitação. Aliados de Paes acreditam que propostas para a segurança pública devem gerar mais atritos, pois o partido diverge das ideias do prefeito sobre o tema.
A decisão dos vereadores Leonel de Esquerda e Maíra do MST de apoiar uma emenda que retirou da pauta o projeto do braço armado para a Guarda Municipal provocou críticas públicas de integrantes do núcleo político de Paes.
Pedro Paulo, deputado federal e presidente do PSD-RJ, expressou insatisfação nas redes sociais.
“Agora é a hora de tirar as crianças da sala, riscar o chão”, escreveu Pedro Paulo. “Eduardo Paes (e muito pela sua insistência, por sua relação pessoal com o presidente) construiu o único apoio de um governo ao Lula nas regiões Sul e Sudeste. E todos sabem como está a (des)aprovação do Governo Federal.”
O parlamentar acrescentou que, mesmo discordando de alguns projetos em Brasília, vota favoravelmente por lealdade ao governo Lula.
PT reafirma aliança, mas pede “maturidade”
Apesar do embate, o diretório estadual do PT demonstra apoio programático a Paes. Liderado por integrantes com base em Maricá, o partido defende uma aliança baseada em convergência de projetos, segundo João Maurício de Freitas, presidente estadual da sigla.
“O PT está de forma programática com Eduardo Paes na aliança”, disse Freitas, ao jornal O Globo. “É um partido que tem capilaridade e história no Rio de Janeiro. Há outros partidos que compõem a prefeitura e não estão no projeto Eduardo Paes 2026.”
Ele ainda defendeu que os vereadores do PT compreendam a relevância do debate sobre segurança pública. “Esse debate requer muita maturidade e paciência para construir os consensos que uma pauta tão prioritária precisa”, acrescentou. “A esquerda está evoluindo para esse debate, mas temos que evoluir ainda mais”.
Em paralelo, Washington Quaquá, prefeito de Maricá e vice-presidente nacional do PT, respondeu às críticas de Pedro Paulo com tom mais contundente. Ele reconheceu que não faz sentido a bancada do partido votar dividida em temas estratégicos, mas rebateu o dirigente do PSD.
“É bom meu amigo Pedro Paulo diminuir sua arrogância porque essa eleição pra governador não será fácil pra ninguém”, escreveu. “Ele não devia destratar e não tem autoridade pra bater publicamente no PT. Que ele nos respeite!”
Desafios eleitorais e cenário estadual
Pesquisas internas mostram que, no Rio de Janeiro, a associação com Lula atualmente representa um desafio para Paes. Isto ocorre, sobretudo em um cenário estadual influenciado pelo apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Se nas eleições municipais a ligação entre candidaturas era menos visível, a corrida para o governo estadual, marcada para 2026, trará consequências diretas dessa associação.
O PT já dominou o cenário fluminense entre 2002 e 2014, mas perdeu espaço após a ascensão do bolsonarismo em 2018. Em 2022, houve recuperação parcial, embora Bolsonaro tenha obtido mais votos no Estado do que Lula.
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