
O partido português Chega, de direita populista e nacionalista, anunciou nesta semana que fará uma investigação própria sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil, Gilmar Mendes. O motivo, segundo o líder da legenda, André Ventura, seria o número elevado de denúncias recebidas a respeito da suposta “influência, património e rede de interesses” do magistrado em solo português.
A iniciativa surge às vésperas da nova edição de um evento informalmente apelidado por críticos de “GilmarPalooza” — um encontro anual promovido por Gilmar Mendes em Lisboa, que reúne ministros do STF, políticos brasileiros, empresários, juristas e autoridades portuguesas, sob o pretexto oficial de seminários acadêmicos e jurídicos.
Ventura afirmou que “todos sabemos que o Governo Lula e os seus amigos tiveram e ainda têm em Portugal um lote grande de amigos que lhes apara os golpes, mesmo tendo em conta a ditadura em que o Brasil se está a tornar”. E completou: “Esse tempo, no que depender do CHEGA, vai acabar.”
O que é o “GilmarPalooza”?
O nome é uma junção irônica entre o nome do ministro e o famoso festival musical “Lollapalooza”. O termo viralizou entre críticos do Supremo no Brasil e é usado para se referir aos encontros informais e luxuosos organizados por Gilmar Mendes no verão europeu, especialmente em Lisboa, onde o magistrado mantém fortes conexões políticas e acadêmicas.
Embora o evento tenha como fachada a realização de fóruns jurídicos — como o Fórum Jurídico de Lisboa, promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), do qual Gilmar é sócio —, ele ganhou a pecha de confraternização de bastidores entre ministros do STF, parlamentares, governistas e empresários, muitos deles alvos de processos no Brasil.
As polêmicas do ano passado
Na edição de 2024, o “GilmarPalooza” gerou forte repercussão negativa. A presença de ministros do STF, de integrantes do governo Lula, além de parlamentares e empresários, levantou críticas quanto à promiscuidade entre os poderes e à falta de transparência.
Imagens de jantares luxuosos, passeios turísticos e confraternizações regadas a vinho circularam nas redes sociais. À época, opositores acusaram o evento de ser um símbolo do “conluio entre Judiciário e Executivo” e questionaram o financiamento dos seminários e das viagens — já que parte dos custos é bancada por instituições públicas ou patrocinadores ligados ao setor privado.
A decisão do Chega pode gerar constrangimento diplomático, especialmente porque o STF brasileiro mantém relações próximas com universidades e instituições jurídicas portuguesas. Também pode acirrar ainda mais o clima político em relação à atuação do Judiciário brasileiro, que tem sido alvo constante de críticas por supostos abusos de autoridade e politização.
Com o anúncio de nova investigação e a proximidade da próxima edição do evento em Lisboa, que ocorrerá nos dias 2 a 7 de julho, o “GilmarPalooza” volta ao centro do debate público — desta vez, não apenas no Brasil, mas também em Portugal.