
O presidente Lula afirmou nesta terça-feira, 20, durante a cerimônia de reinauguração do Palácio Capanema, no Rio de Janeiro, que a democracia brasileira está “capenga”. Apesar disso, celebrou o fato de que a suposta tentativa de golpe de Estado entre 2022 e 2023 não resultou em uma ruptura institucional.
“A gente consegue manter a democracia capengando, mas andando. Estamos vivendo o tempo mais longevo de democracia neste país”, disse. “Da Constituinte de 1988 para cá, é o momento mais duradouro do sistema democrático, mesmo com todos os defeitos que alguns veem.”
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No mesmo dia, o Supremo Tribunal Federal (STF) transformou em réus mais dez investigados por envolvimento na suposta trama golpista. “Tentaram dar um golpe em 8 de janeiro, e a sociedade rejeitou”, afirmou Lula. “Se depender de todos nós aqui, este país nunca mais haverá de sofrer um golpe.”


O petista esteve no Rio para marcar a reabertura do Palácio Capanema, fechado há dez anos. O Palácio Capanema é um dos símbolos do modernismo brasileiro e teve sua venda planejada no governo de Jair Bolsonaro, que também extinguiu o Ministério da Cultura.
“Eles, na verdade, odeiam a cultura. Preferem armas a livros, à dança, às artes”, criticou Lula. “Mas há algo mais profundo: temem o poder transformador das artes e da cultura.”
Servidores do Ministério da Cultura fizeram um protesto em frente ao edifício durante a cerimônia de reinauguração. A categoria está em greve nacional desde 29 de abril pela implantação de um plano de carreiras, reivindicada desde o primeiro mandato de Lula, quando Gilberto Gil era o chefe da pasta.
Janja ganha honraria mais alta do setor cultural
Na solenidade, Janja ganhou a Ordem do Mérito Cultural no grau Grã-Cruz, a mais alta honraria pública do setor cultural no país. Em 2023, ela também foi homenageada pelo governo com o mais alto grau da Ordem de Rio Branco, concedida pelo governo brasileiro para distinguir pessoas físicas, jurídicas e entidades “pelos seus serviços ou méritos excepcionais”.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, e o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes (PSD), acompanharam Lula na cerimônia, ao lado de outras autoridades. Durante a entrega da Ordem do Mérito Cultural, Lula destacou que a diversidade estava “refletida” entre os homenageados.
Ao todo, foram homenageadas 112 pessoas e 14 instituições. “São representantes das mais diversas manifestações culturais que deixaram e deixam marcas profundas na vida e no imaginário do nosso povo”, descreveu o petista.


Além de Janja, condecorada no grau Grã-Cruz, figuram na lista nomes como Fernanda Torres, Walter Salles e Marcelo Rubens Paiva, em destaque depois do Oscar conquistado pelo filme Ainda Estou Aqui. Outros homenageados incluem Alceu Valença, Alcione, Tony Tornado, Arlindo Cruz, Xuxa Meneghel, Marília Mendonça, Milton Nascimento, Martinho da Vila e Ney Matogrosso.
Lula também afirmou que, assim como o direito à alimentação, o acesso à arte e ao lazer é fundamental e que esses direitos estiveram ameaçados durante o governo anterior. “A gente precisa de comida, de diversão, de arte. Foi isso o que justamente eles tentaram tirar de todos nós. Nós resistimos. Temos muitos desafios pela frente, mas temos motivos de sobra para comemorar.”
Palácio Capanema será reaberto ao público
As obras de recuperação do Palácio começaram em fevereiro de 2019, com investimentos de R$ 84,3 milhões por meio do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC). A intervenção envolveu restauração estrutural, modernização interna, revitalização dos jardins de Burle Marx e renovação das instalações elétrica, hidráulica, sanitária e de combate a incêndios.


O prédio será aberto à visitação pública em paralelo ao funcionamento administrativo do Ministério da Cultura (MinC) e instituições vinculadas. A partir do segundo semestre, o terraço deverá receber um restaurante com área externa voltada para o Centro do Rio. O projeto prevê que 60% do espaço seja dedicado a atividades culturais e os 40% restantes à administração.
Construído entre 1937 e 1945, período do Estado Novo, o prédio de 16 andares foi originalmente sede do Ministério da Educação e Saúde Pública. Tombado pelo Iphan, é considerado um ícone do modernismo mundial, com projeto assinado por Lucio Costa e contribuições de Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Jorge Moreira, Ernani Vasconcelos e consultoria de Le Corbusier.